Nuvem Branca

Nuvem Branca

Ano: 2017

DAS LÁGRIMAS QUE MOLHAM OS RAMOS

"No século IX, um poeta chinês, Li Shang-Yin escreveu um poema, Exílio, que dizia:

Um dia no fim do mundo.
No fim do mundo, de novo o dia passa.
O melro chora, como se fossem as suas lágrimas
Que molham os ramos cimeiros das árvores.

Lembrei-me deste poema a propósito da obra de Rui Paiva, que venho a acompanhar há algum tempo. Não porque ela esteja desfasada dos tempos em que vivemos, mas porque há nela uma transparência do processo de construção de cada obra que acentua, sobretudo, a questão do tempo. Tal como na poesia de Shang-Yin, existe na obra deste artista um tempo que passa devagar, marcando as estações do ano, os lugares de passagem, as qualidades lumínicas de determinadas horas do dia. E, sobretudo, a vontade de deixar ver a qualidade efémera de tudo através da presença dos sinais da água.

A matéria de que Rui Paiva se serve para criar inclui sempre, ou quase sempre, o elemento líquido, que simboliza como nenhum outro a melancolia do irrepetível e do nunca mais. Mesmo no fim do mundo, diz o poeta, o dia continua a passar – o dia já passou? – deixando-nos confundir as lágrimas com o orvalho das árvores, deixando-nos a consciência do que de facto terminou.

Posso dizer que vi nascer o livro que Rui Paiva agora apresenta. Como todos os livros de artista, é de certo modo simultaneamente um diário, um manifesto de intenções, uma análise retrospectiva do que se fez. Rui Paiva, como é sabido, é senhor de uma carreira pública notável nos domínios da economia e da conservação do património, e um apaixonado pela geopolítica que estuda aprofundadamente. Nasceu em Moçambique. E viveu em Portugal e Macau. De certo modo, é a junção entre estas duas últimas culturas maiores, a europeia e a oriental, que perpassa pelo seu trabalho como artista plástico."

Luísa Soares de Oliveira
Janeiro de 2017

LANÇAMENTO MACAU 2018

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LANÇAMENTO LIVRARIA BARATA 2017